Autopoiesis Integral
Na procura da «poesia do futuro» — Neo-romanticismo, anti-capitalismo, psicologia transpersonal, ciberpunk, thrash, D.I.Y. e muito ferro candente...
http://roiferreiro.blogspot.com
Cailleach
(Callegh, Ghallegh, ghallegho/a, ghall-aecia…)
Namentres non vibren as ialmas,
os corpos serán cinza morta!
(Manuel Rodríguez)
*
Em nós a velha nai berra
com verbas que chegam
até as ilhas de Homo mais dispersas
Verbas de vento e choiva,
de árvores e pedras,
que podem entender todas as terras:
*
A imaginaçom assovalhada
A mátria aldrajada
Umha diáspora de subjetividades
A nossa comunidade eterna
assulagada
no cárcere da noite pétrea
Construida sobre
as pálpebras do além-ser
e os muros de terra do Sino
*
O desatino enxerta-nos na máquina
Mergulha-nos na mentira
dum progresso que mágoa
Porque nos alonja
da unidade sem fronteiras,
da verdade da natureza mesma
El mata a vida auténtica
que agroma no bravo e sincero
A mesma que flue sagrada
Das choivas para os rios,
dos regos para as seivas
e das seivas para o sol
*
Dos montes para as carvalheiras,
esse auga refresca o sol
e abranda as pedras
Assi novos frutos e crianças
som formados e alumados
do calado pó das estrelas
Porém emigrantes de images,
desde o seu abstracto além-mar
arrenegam da ascendência e do lar
Outeam por bos destinos de escrav@s
e deixam tras de si a comum miséria,
as leiras incultas, sujas as veigas
Correm sonhando e anelam
salvadore/as afora e perdem adentro
a terra natal, ferida e famenta
*
Em moreas de cascalhos e morralha
deixam tiradas as bandeiras
que o sangue e a luita irmanarám
Farrapos de vida, refugalhos
de aspiraçons que som arrojados
e abandoados ou queimados
Baixo o feitiço do capital,
na sombra dos montes
ou em contenedores de olvido
Mas o espírito da terra brava,
ora encerrado em coraçons e paisages,
habita o fungar dos ventos
Durme coa auga luminosa
saudorosa de guerreir@s,
névoa do sol de gigantes
Nom morre nunca esse silêncio
O poder das urdidons invisíveis
que abrolha para casar co ceu
*
Nai Cailleach, agora
quito-che o teu veu nevoento
para ver-te outra vez moça
Fai por curar-me as eivas
para que poda ser ceive
e serei teu, fértil para sempre
Apesar do meu duro zoar
ainda som das origes,
um lume esquivo
e coraçom fugitivo,
terra sem civilizar
ainda quentada polo sol
Fico no claro das carvalheiras
porém vague, mutante,
junto cos hábiles e beligerantes
Nom hai no além treitos
de lugar ou tempo
que me amedrem
Nom hai no aquém furados
onde nom te encontre
já que venho das fundas fontes
*
Túsaro, bandalho, torto
Isso som para as máquinas imperiais
Mas tu sabes o que esses falares dim:
Originário, guerreiro, certo
Sentado na tua coroa de pedras
Ando polos círculos das augas
Aperfeizo-o a singular natura minha
afazendo-me à sorte de viageiro
que vai a saltos igual que as troitas
A tua voz inspira-me a viver
e o som colorido do nosso amor
fará que os povos floresçam
Farei um castro que me envolva
e arderei baixo o lume sábio
do múltiple deus artista
Cailleach, ti dis-me:
“Luita, luita com todas as forças
e entrega-me o teu vento”
Sei coa minha alma despida
que só haverá solpor no final
dos devires deste Sonho mouro
Som guerreiro do teu além
e anterga e nova, infinda,
aqui chamo-te tamém: Galiza
Escrito: 06/10/14
Revisom: 30/12/14
Orfeu cibernético
I
Misterioso
Orfeu cibernético
amante e profeta
Doma as máquinas
co teu canto recodificante
de harmonia
Nocturna ledícia
do sol espreitante
tangendo os interfaces
Co teu braço ligeiro e tenro
e as tuas suaves
e precisas maos poéticas
Recompós a Dionisos
amputado pola titánica
civilizaçom olímpica
II
Dispersando as pantasmas do Sonho,
primitivas images de Homo
feitas estranas e opacas a el
re-integras co seu ser
ao grande espírito maquínico
que ora obra cegado e torto
E que como autómata divino
dirige, regio,
a autocriaçom humana
cujos instrumentos volta
em contra por longo tempo
nesta guerra industrial piramidal
Muda, novo Orfeu,
em êxtase criador o brutal gozar
desta beleza maldita e eterna
III
Correndo cos teus lobos
no luar da noite industrial
vas silandeiro
polas escuras linhas de programa
que cortam
pola natrícia rede profunda
nas aforas do domínio
do Deus Computador
e o seu virtualizador ceu
Onde a auto-image de Homo
é reconvertida em
pantasma de robot
subjugada como espectro
das máquinas que se acoplam
para produzir o humano:
humano abstracto e estranho
Opondo o futuro às origes,
a techné à poiesis:
Mecanizaçom do ser contra a auto-criaçom de Homo
Um programa anti-sapiência
O código da extinçom
IV
Liberta ao Homo cyborg
despertando aos clons
e percorrendo os programas vivintes
para fazer que caia o Sonho
desta mente,
demiúrgica simulaçom objetificada,
ilusório aperfeiçoar
a virtuosidade humana
alheando-a do existir sensível
Na órfica poiesis
a metamorfose original
é desvelada e re-actualizada
Escrito: 28-29/10/14
Primeira revisom: 30/12/14