Como um leão de fogo, com olhos e ouvidos alerta, contemplava a virgindade da vida, aquele humano ser que de si mesmo ainda se esconde.
Depois de atravessar três reinos, em três anteriores cadeias (vencendo, passo a passo, cada íngreme montanha e cume); agora contempla aquela luz basilar, invicto, com a sombra dum corpo humano conquistado pelo esforço antigo. Corpo e humano, tão perfeito, como nunca imaginar quisera, pudera, antes de obter uma carne tão envolvente. Mas lamentavelmente ele ainda era cego, para as cousas do amor e do coração como copo de elixir eterno.
Memorias dos seus ossos falavam a língua dos minerais (não menos silenciosa que dúctil lembrava de pedra ser sua alma). Lembranças de seu olfato, gosto, tato (como isso se pudera exemplificar) sentia na macia pele dos vegetais como sua. A verdura do campo, percorrendo seus nervos adjacentes, vivificante todavia nas sensações que ele sentia, sonhando tudo, da campina, nos pertence.
No seu sangue impetuoso ainda podia ele refletir a força do animal que todos levamos dentro. Ruge o leão ruge, corre em perseguição a corça ferida de anelo. O Lobo, nas suas caricias, precisa compaixão e dentro, em jogo de tantas emoções, cambiantes impulsos de vencer um inexorável escolho, se impacientam… E tão imprevisíveis são, como a força bruta que ainda nos domina: em ele também manifesta, com cada ataque de fúria.
Fora felino e lobo, urso gélido em ambiente desolado polar (mas disso ninguém se lembra). Como ave viajante prevalecendo inconsciente nos seus sonhos (a percorrer milhares de quilómetros na procura do calor invernal – ao sul dos hemisférios; na fugida do frio outonal vindo, outra vez, rumo de volta ao verão, no norte esplendor já crescente). Ave – desde logo, como agora, ele podia comprovar, quando seu rumo errado precisava mudar em direção ao austral centro. Voando fora de toda aquela amnésia. Loucura, tentando fugir ate o céu de seu próprio delírio inconcreto. Mas os delírios se sucedem, de quando em quando, sem ele saber a causa principal que provoca este tormento. “Descer também, possa que chegue a ser, uma experiência necessária” – pensou ele, a soas consigo mesmo. Desnecessário foi aqui marcar este pensamento.
Nas primeiras etapas evolutivas, ele falara com os demos. Na atual guerra de sangue, tinha esperança à ração chegar a controlar, após múltiplas dores (em múltiplas etapas) já experimentadas. Conforme às emoções incontroladas tentamos dominar, a miúdo com escasso afã e doses grandes de fracasso. Como as baixas paixões, as terríveis pulsões e o medo a morte que chama o sangue na procura do sangue, numa rápida solução, ascensão brutal, a cara oculta das derrotas – Desolação tem por nome.
A matéria que agora formava seu corpo: radiante, gasosa, líquida e solida, ainda aspirava a dominar seu efusivo entorno – Emocionalmente ele era instável, irascível, previsível e virado para a cruz do sexo. Aqui ele, por primeira vez, lembrou: um circulo atómico e sub-atómico que essa merda será?… E por meio duma elevada, correta evolução, na procura do Ser Perfeito, pode ele chegar a dominar toda esta matéria – Escutou dizer alguma vez, mas isso que significa?. Paciência!
Embora, neste preciso instante chegado de longe o medo à morte, subitamente tomar o controle: ele resiste.
Resiste: Aí, parado, em guerra consigo mesmo e tal vez com seu entorno. Todavia, deste jeito a evolução, resultaria como um horizonte impossível de alcançar, no alivio da serenidade. Demarcada, normalmente, toda esta visão por um nobre sentido de ser útil a sua própria e dura existência.
Pois ele sonhava, sonhava e guerreava, sonhava e lutava, num mundo mais escuro e triste, a cada vez, que descobria por trás do amor, a dureza dos olhos, falsos ao perder toda inocência.
Somando as grandes desgraças, o pânico a algum dia não poder suportar jamais, tão acrescentando pensamento: da morte finalmente atingir, seu corpo já doente. Doente e canso (sem mesmo conta se dar, que esse prolongado cansaço poderia ser uma das abertas portas, para cruzar, ao mundo subtil da luz, o mundo das estrelas mesmas: onde a paz solar, a ninguém nunca lhe foi negada- Essa impossibilidade nas nuvens não existe). Mas isso é outra história.
Por agora o que nos interessa é saber – que ele ainda não voltará a casa do Pai, aquele que é verdadeiramente Rei. Não voltará, por ignorância. Não vai ainda regressar ao palácio abandonado, pois não lembra simplesmente do caminho que empreendeu, da vez primeira, que fugiu para ver mundo.
Perdeu o contanto com os abraços da mãe e a proteção do berço. Esqueceu seu verdadeiro nome, o apelido do Pai e a voz das suas irmãs gémeas… Elas falam ainda a seu coração, mas ele não as reconhece. Dizem -afirmam os mestres – elas simplesmente dizem, reiteradamente – nos sonhos, na intuitiva afirmação, elas reiteram: Tu és um filho das estrelas!
Tinha chegado ao ponto axial daquela toda descida aos infernos, daquela precária existência. E agora, o pródigo filho, caminhava outra vez com intuito do regresso… Todavia sem saber, mas já podendo perceber, no final do túnel – que ele chama de horizonte – a luz solar nascer, por cima de
toda sombra. Escutaram-lhe gritar naquela prezada ocasião, forte muito forte: Isso deve ser a Aurora!
Heureca.
Que graça tem esta porcaria?
Pois coma “porcaria” que é ten moita “graça”